“Os efeitos da Quarta Revolução Industrial devem ser o resultado de mais cooperação e menos competição entre os países, da união de recursos humanos e financeiros em favor de uma civilização que partilha de um mesmo destino.” (Thomas Philbeck, World Economic Forum)Foi um autêntico sucesso o 20º Fórum Nacional do Ensino Superior – FNESP, promovido pelo Semesp e realizado em São Paulo, nos dias 27 e 28 de setembro passados. Foi abordado como tema central a 4ª Revolução Industrial, atualmente preocupação de todos. Nada mais oportuno que começar com a palestra do emérito professor José Pastore, que, bem ao seu estilo, deu nos uma visão sobre os desafios que esperam o mundo educacional para atender a formação para o trabalho diante das transformações da tecnologia, dos ambientes e da sociedade. A síntese de sua inquietude estava expressa na tese de seu questionamento: “Como será o trabalho do futuro?”. Desnecessário dizer de sua capacidade avaliativa de refletir sobre o vem por aí. Quem se interessar mais pelo assunto, siga o link com 13 slides que bem demonstram as preocupações do painelista. É de se surpreender: clique aqui. A Quarta Revolução Industrial surge para a sociedade em uma perspectiva global, em sua escala, escopo e impacto de complexidade, diferente de tudo que já experimentamos anteriormente. O crescimento exponencial das tecnologias e suas aplicações emergentes em áreas como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, nanotecnologia, biotecnologia, ciência de materiais, armazenamento de energia e computação quântica são sem precedentes, transformando setores da sociedade civil, em especial a educação. Com esse eixo, o Fórum impactou os participantes com foco no aprofundamento e na compreensão de conhecimentos. Uma das palestras que ampliou bastante essa perspectiva foi a do chefe dos Estudos de Ciência e Tecnologia Thomas Philbeck, do World Economic Forum, que disseminou o conceito quando publicou, em janeiro de 2016, o relatório “The Future Jobs”, considerado um divisor de águas sobre a importância de se repensar o conhecimento e habilidades para a sociedade do século XXI. Os dados apresentados ressaltam o processo de automação do trabalho e da importância do setor educacional assumir o desenvolvimento de novas habilidades, não específicas a determinadas áreas do conhecimento, mas que valorizem a inteligência humana, na resolução de problemas complexos, a criatividade, o trabalho em equipe e a comunicação. Philbeck deixou claro a necessidade de promover o redesenho de novos espaços que orientem o conhecimento, em seu sentido mais amplo de futuro, inclusive pela criação ou redesenho de currículos, que passam a ser concebidos e construídos para impulsionar demandas que preparem as pessoas tanto para empregos emergentes, como realidades econômicas e sociais. O relatório do McKinsey Global Institute, com seus dados alarmantes, mostra que os robôs poderiam substituir 800 milhões de empregos até 2030 significando que é preciso promover uma "revolução de habilidades" para abrir uma série de novas oportunidades. Ponto de destaque foi a apresentação de práticas exitosas de instituições brasileiras e americanas. No Brasil, o Centro Universitário Celso Lisboa, que, com ousadia, criatividade, trabalho em equipe e o redesenho de espaços de aprendizagem, tem estruturado uma metodologia voltada ao desenvolvimento de habilidades e competências, permitindo aos estudantes uma fluência digital e empreendedora, que ultrapassam o currículo tradicional e o conhecimento. Isso tudo, conseguindo alinhar os processos regulatórios do MEC. Um dos grandes diferenciais do futuro são as economias baseadas em conhecimento, enraizadas na ciência e na tecnologia, interdependentes globalmente e motivadas pela inovação. Além disso, uma economia vibrante e inovadora depende muito do conhecimento e das habilidades da força de trabalho, impulsionada ainda no Brasil pelo setor universitário, responsável pela formação desse mindset nessa nova geração de egressos. Países de todo o mundo estão começando a acompanhar essas tendências e reformulando seus sistemas de ensino para concentrar ações no fortalecimento dessas capacidades, que são entregues no formato de novas experiências de aprendizagem, como a resolução de problemas reais, como uma importante estratégia de criar essa cultura de realizações práticas a partir da vivência universitária. Essa nova perspectiva é uma alavanca importante para colocar a Universidade em um novo patamar, em que os projetos de vida, carreira e empregabilidade, passam a ser centrais no processo de engajamento e permanência desses estudantes. Diferentemente de uma educação de formação para o trabalho, essa perspectiva está voltada ao desenvolvimento eficaz de habilidades, conhecimento e capacidade de inovar, que impactam na força de trabalho e inclusão social. Foi o que mais chamou a atenção na apresentação da Stefani Lindquist, vice-reitora da Universidade do Arizona. Ela ainda apresentou desafios e oportunidades como: conexão do ensino superior com o mundo do trabalho, currículo dirigido por problemas, análises preditivas, eficiência de escalas e permanência dos estudantes na universidade. Liz McMillen, editora do Chronicle of higher education, destacou a importância da revisão nos modelos de educação para atender as demandas tecnológicas e do futuro do trabalho, incluindo a preparação para a proficiência plena de habilidades como coordenação com os outros, gestão de pessoas, criatividade, resolução de problemas complexos, fundamentais para viver com autonomia no atual e permanente cenário de transformações e mudanças. Para ela, novos modelos como as certificações, serviços de carreira e aconselhamento e modelos mais abertos de formação, se tornam tendências importantes que devem ser observadas por todo o segmento educacional. Apresar das competentes mensagens passadas pelos 13 painelistas do evento, são muitas as barreiras e desafios a vencer na educação brasileira, do Fundamental ao Superior, evitando-se o descompasso entre as universidades e o mundo do trabalho que é real e é enorme. O FNESP deixou muita reflexão a exercitar, alguns questionamentos que precisam de esforços conjuntos comuns como reorganizar o desenho das instituições de ensino, que ainda são extremamente hierárquicas, enraizadas em modelos mentais regulatórios, conteudistas e curriculares, pouco criativos e inovadores. As palestras inspiraram e motivaram o planejamento de ações mais concretas, para os desafios reais da educação superior. Precisamos ir além do óbvio na oferta de novos cursos, do mercado de captação e permanência dos estudantes. Desenvolver uma inteligência estratégica e colaborativa para inovar, atuar e transformar o cenário instável e de profundas transformações no Brasil é urgente e deve fazer parte da pauta da educação superior. Pensar no futuro do trabalho é muito mais do que a geração de empregos. É necessário consolidar diretrizes para o desenvolvimento sustentável, cidadania, compartilhamento de informações e inclusão social. Daí a importância de que Governos, empresas, estudantes, sociedade, instituições educacionais, professores e estudiosos precisarem estar unidos para acompanhar as inovações que mais cedo ou mais tarde estarão acontecendo.